sábado, 18 de junho de 2011

Carta Àquela Boa Sensação

Dia desses, no trabalho, fui ao banheiro - justamente onde, há cerca de um ano, eu fiz os primeiros dois testes de farmácia que confirmaram o que eu e o meu marido já sabíamos. E lá, lavando as mãos e me olhando no espelho, por uma fração de tempo, você me veio: a mesma sensação surreal que eu tive ao me olhar no espelho depois de descobrir que de fato eu estava esperando um bebê. Que de fato eu já era mãe.

Engraçado como você ficou perdida no tempo. Como você desapareceu da minha vida lenta e discretamente, de forma que eu, tão envolvida no turbilhão de emoções da gravidez e do cotidiano, me esqueci de você, de como você é, e de como você mexe comigo e me faz feliz.

E quando senti tua presença novamente senti também um calafrio. Tanto de que eu havia me esquecido! Era outra época. Eu ainda era mais menina e menos mulher. Não sabia que esperava uma garotinha. Que seu nome era Isabel. Que ela era meu clone. Eu nem sabia que era uma só! Eu tinha certeza de que eram gêmeos. Eu não sabia que eu teria o meu tão desejado parto natural, que sofreria várias ameaças de aborto, que engordaria bem menos do que eu imaginava, que ficaria com estrias nos seios. Não sabia a data do dia mais emocionante da minha vida. Mas ficava a me perguntar, fazendo cálculos e mais cálculos inúteis. Não sabia de nada. Só sabia que estava diante do maior acontecimento da minha vida. Algo que eu sempre desejei e que por isso mesmo eu não acreditava que estava acontecendo. O resto era uma deliciosa incógnita que eu tinha ânsia por desvendar e pressa nenhuma.

Então um dia qualquer, entendendo que você já não era mais a protagonista daquele momento, você saiu de fininho. Mas te agradeço por não ter ido embora para sempre. Por ter apenas ficado nos bastidores, aguardando sua hora de brilhar novamente. Muito esperta você! Sabia que se ficasse lá do meu lado sempre eu me acostumaria a você e não te daria teu devido valor. E quão valorosa você é!

Você reapareceu num momento mais do que oportuno. No momento em que eu volto a trabalhar e em que ter a Isabel comigo estava começando a se tornar "normal". Em que eu estava me acomodando e me acostumando a minha nova rotina, esquecendo-me da sorte que eu tenho de Isabel ter me escolhido sua mãe.

E me fez chorar copiosamente, como há muito não faço. Solucei até! Não foi aquele choro contido que eu choro quando vejo Isabel me fitar enquanto mama como que tentando me entender. Nem aquelas lágrimas que logo se transformam num sorriso quando ela 'conversa' comigo ou, curiosa, observa o mundo atenta do meu colo com seus olhinhos de diamante negro e seus cícilos de vassoura.

Desta vez foi diferente. Foi como o choro de uma criança que, distraída com tantos brinquedos, de repente vê sua mãe doando seu brinquedo favorito - mas esquecido - a um orfanato e nada pode fazer. Uma sensação de culpa por não ter dado valor a algo que tanto se preza e que portanto, de forma justa, se vai. Quase como se se eu tivesse feito mais esforço para não te deixar cair no olvido, você teria ficado do meu lado sempre. E foi um choro de saudade. De desespero por não poder controlar o tempo. Por não poder te controlar. Por ter te esquecido. Por não poder te trazer de volta quando eu bem entender. Você e tantas outras boas sensações que eu vivi e vivo. E que eu não sei quando, nem se jamais terei a sorte de reviver. Mas foi também um choro feliz, de alegria por ter tido você em algum momento da minha vida e de gratidão por poder revê-la, mesmo que brevemente.

E aí, você, satisfeita e certa de ter atingido seu objetivo, se foi novamente.

Sei que não consigo e nem devo tentar te manter ao meu lado a todo instante pois tua presença se tornaria banal. Só te agradeço por não ter se esquecido de mim como eu me esqueci de você e te peço que venha me visitar de vez em quando.

2 comentários:

  1. Comecei a ler arrepiada e terminei chorando copiosamente! Teu texto me pegou na boca do estômago... Eu choro quando vejo o Bhcg por isso: nem sabia o que aquilo significava!
    ...
    Obrigada por compartilhar!
    Beijos

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  2. Oie, adorei o comentario que vc fez em meu blog, então o link da licença maternidade da finlandia esta aqui http://contosdasandra.blogspot.com/2011/06/blogagem-coletiva-quem-cuida-dos-nosso.html é ai que eu vejo q o Brasil ainda tem muito q se desenvolver, la os pais tem direito a ficar até os 3 anos com a criança, seja pai ou mãe, e nós aqui no Brasil? mero 6 meses que não valem de nada...

    bjocas e obrigada pela visitinha

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