quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um Amor de Útero

O relato de hoje foi escrito com muito carinho. Pode interessar quem tem alguma anomalia uterina, quem sofre ameaça de parto prematuro ou quem vive uma gravidez de alto risco.

...

“Seu útero tem o formato de um coração”.

Foi com estas lindas palavras que o médico me comunicou que eu tinha um útero ‘diferente’.

Era o ano de 2002 e eu tinha quinze anos. Passava numa consulta de rotina do check-up anual. “Mas, o quê isso implica?”, perguntei, mais fascinada pelo fato de eu, pela primeira vez na vida ter alguma anomalia física, do que preocupada de verdade. Ele me explicou que pelo ultra-som não estava claro se meu útero era didelfo ou bicorno, mas que de qualquer maneira, não era ‘normal’.

Deixem-me explicar então, o pouco que entendo do assunto:

Um útero normal tem mais ou menos a forma de uma pêra invertida:



Já um útero bicorno tem um recorte na parte superior e parece um coração:



O útero didelfo / útero duplo são na verdade dois úteros, de forma que a mulher tem assim dois colos de útero:

Existem ainda outros tipos de útero: o septado e o unicorno.

O médico foi muito solícito. Me apontou a anomalia no ultra-som e fez desenhos para me explicar tudo. Mas também disse que:

(a) eu teria dificuldade para engravidar;
(b) se eu eventualmente conseguisse engravidar a gravidez seria de alto risco.

Na hora eu pouco me importei. Afinal, eu tinha quinze anos! Pensei: “Se não der, eu adoto”. Quem se desesperou foi minha mãe que já foi logo dizendo que serviria de barriga de aluguel se eu precisasse. Achei o fim da picada! Mas hoje eu entendo sua reação. Se eu tivesse recebido esse diagnóstico quando fosse um pouco mais velha ele teria me pego de jeito. Diante de uma impossibilidade real de engravidar ou de segurar um bebê eu provavelmente optaria pela adoção mesmo, ou por uma barriga de aluguel, mas certamente não seria fácil me conformar e aceitar a situação.

Aos poucos pipocaram alegações aqui e ali – culpa do Google e de médicos sem-noção - de que além dos prognósticos negativos (a) e (b), se eu engravidasse eu poderia sofrer um aborto, ou o bebê poderia nascer prematuro – o que para mim, na época, era o mesmo que dizer que ele nasceria com sérios problemas, ah, que ironia do destino! – e também de que seria muito improvável um parto normal.

E diante de tanta negatividade, meu cérebro, esperto, decidiu barrar toda e qualquer informação sobre o assunto. Nos anos seguintes passei a realmente não pensar na minha anomalia e a pensar em lidar com as coisas conforme elas acontecessem, não antes: “Cruzarei essa ponte quando chegar a ela”. Decidi que tudo se resolveria. Chegou ao ponto em que eu já nem me lembrava mais disso tudo, nem quando conversava com as pessoas sobre bebês, filhos, gravidez. E acho que deu certo. Pelo menos em parte.

Não tive dificuldade nenhuma para engravidar. Pelo contrário. Engravidei de primeira. Mas a previsão (b), de que a gravidez seria de alto risco, se mostrou certeira.

O primeiro ultra-som em que Isabel aparece foi feito num PS às seis semanas de gestação. Eu havia sofrido uma ameaça de aborto. Foi um sangramento pequeno e escuro, a tal ‘borra de café’. Mas o suficiente para me deixar em estado de alerta e para trazer à tona toda aquela negatividade de anos antes. E todas as preocupações, incertezas e aflições. De repente eu me lembrei do meu útero bicorno. Ou seria didelfo? A médica disse que não dava para saber, ainda mais eu já estando grávida...

A recomendação foi ficar em repouso relativo – “não precisa ficar de cama mas evita ao máximo fazer esforço” – por quinze dias e praticar a abstinência sexual “provavelmente até o final da gravidez”. Fiquei afastada do trabalho e muito deprimida com a situação. Ignorei o que a médica disse e fiquei de cama mesmo. E comi muito para descontar toda minha angústia. Engordei 3kg em duas semanas.

O sangramento demorou uns sete dias para cessar. Retomei minhas atividades normalmente. Até que tive um outro sangramento, cerca de duas semanas depois. Tornei a correr para o PS. Desta vez não foi preciso fazer um ultra-som. Os batimentos do bebê estavam normais e no exame de toque não foi detectado nenhum resquício de sangue. Eu não precisaria repousar novamente, mas teria que ter muita cautela.

E assim dois outros pequenos sangramentos se sucederam num espaço de poucos dias. Fiquei apreensiva, com medo de que eu fosse perder meu bebê, ou passar a gravidez toda de cama, deprimida, engordar horrores. Mil coisas me passavam pela cabeça.

Procurei explicações para o que havia acontecido, mas foi tudo em vão. Alguns médicos sugeriram que – por eu ter um útero ou bicorno ou didelfo e, portanto, haver menos espaço para o bebê se mexer – qualquer movimento mais brusco poderia ocasionar um sangramento. Outros diziam que os sangramentos poderiam ser ‘mini-menstruações’. Eu já tinha ouvido falar em mulheres que continuam menstruando mesmo depois de grávidas, mas não parecia ser meu caso porque os meus eram sangramentos com intervalos irregulares.

Logo parei de questionar tanto pois eles finalmente desapareceram. Nunca mais vi a tal ‘borra de café’. Eu já estava calma e tranqüila de novo, segura de que tudo daria certo.

A certa altura do campeonato, quando eu já completava três meses de gravidez, decidi que tinha que perder o peso ganho nas semanas em que fiquei de cama ou eu terminaria a gravidez com uns quarenta quilos a mais. E assim, num fim-de-semana, com o aval da médica, retomei minhas caminhadas rápidas e exercícios com bola suíça e cinta elástica. Só que exagerei na dose. No afã de emagrecer logo eu malhei cerca de duas horas por dia por três dias seguidos. O resultado foi catastrófico.

Domingo à noite fui me deitar sentindo cólicas leves. Como eu já estava acostumada, não dei muita bola. Mas foi uma noite mal-dormida. E interrompida às seis da manhã quando me dei conta de que eu estava deitada numa poça de sangue. Ascendi a luz e vi meu pijama e lençóis tomados por uma mancha vermelha. E para meu desespero era um vermelho-vivo. Eu já tinha lido que quanto mais vivo for o vermelho do sangramento, mais recente é o sangue e portanto mais preocupante é o quadro. No entanto, isso não significa que a ‘borra de café’ não seja motivo para correr para o PS. Ambos são.

Como eu tinha consulta com o GO logo pela manhã, às dez, decidi não ir para o PS como de costume. Tomei banho e me arrumei chorando. Liguei para meu marido que estava viajando – e que tem uma fé inabalável. Ele ficou bravo com a minha descrença. E eu brava com ele.

Era minha primeira consulta com esse GO. A outra médica eu tinha abandonado porque meu plano de saúde mudou e não cobria mais consultas com ela. Eu era a penúltima paciente dele e ele tivera que agilizar os atendimentos pois um parto o esperava no hospital. Fiquei inconformada. Justo nesse dia ele teria que me atender rápido?

Por sorte ele foi humano. Vendo minha dor e sofrimento primeiro me acalmou e depois procedeu à verificação dos batimentos do bebê. Foram segundos decisivos. Me senti como um réu à espera do veredicto. Mas meu marido tinha razão. O bebê estava vivo. Tinha sido só mais uma ameaça, um susto. Sinceramente, foi um milagre. Foi muita proteção. Eu tinha pisado na bola. E pisado feio.

Me lembro de que o médico ficou um bom tempo conversando comigo, tirando minhas dúvidas. Num dado momento sua secretária entrou no consultório dizendo que o táxi já o estava esperando. A resposta dele? “Vai ter que esperar”. Me senti mal pela mãe que estava prestes a ter um filho mas nessa hora eu tinha que ser egoísta. Meses mais tarde, quando esse mesmo médico não chegou a tempo de fazer o parto da Isabel e ela nasceu pelas mãos de uma plantonista, senti como se uma dívida tivesse sido quitada.

Mais uma vez fiquei afastada do trabalho por quinze dias em repouso relativo. A novidade era que agora eu teria que tomar remédios. Eram dois. O Ultrogestan, progesterona para ajudar o útero a ‘segurar’ o bebê. E o Dactil-OB para evitar um parto prematuro. O Ultrogestan podia ser tomado via oral ou vaginal mas eu preferi a via vaginal porque li que dava melhores resultados. Uma cápsula, uma vez ao dia. O Dactil-OB era para eu tomar de seis em seis horas. Os dois medicamentos me acompanhariam a gravidez toda, como de fato o fizeram. No dia em que Isabel nasceu eu ainda os estava tomando.

Praticar a abstinência sexual não foi nada fácil. Confesso que lá pelos sete meses de gestação acabamos quebrando-a umas três ou quatro vezes. Com muito cuidado e carinho, é claro. Mas mesmo assim você fica com receio. Se tivesse dado algum problema acho que nunca me perdoaria. Hoje eu penso que existem muitos outros meios de manter o amor e a intimidade do casal sem colocar o bebê em risco quando o médico proíbe o ato sexual em si.

E também hoje sei que fiz muita burrada no começo da gravidez. Eu não sabia mas o primeiro trimestre da gravidez é o mais delicado. Sempre pensei que fosse o contrário, que o último é que seria. Por conta do tamanho do bebê, da barriga, etc. Mas descobri que a maioria dos abortos espontâneos acontece nos três primeiros meses de gestação. É por isso que a maioria das pessoas só conta a novidade para os outros passado esse período. É um período crítico. Óbvio que abortos espontâneos podem ocorrer em qualquer estágio mas é no primeiro trimestre que estamos mais suscetíveis a eles. E descobri também que muito mais pessoas sofrem abortos espontâneos do que a gente imagina. Justamente pelo fato de eles amiúde ocorrerem no comecinho da gravidez, nós geralmente nem ficamos sabendo que a mulher estava grávida. Afinal, quem vai querer ficar se expondo assim num momento de luto?

E a tonta aqui fazendo um monte de exercício no começo da gravidez... Fico me perguntando: “Por quê nunca me falaram disso antes?”.

Enfim...

Depois que comecei a tomar os remédios – e a tomar mais cuidado – a gravidez correu tranqüila. Tive mais um mini-sangramento uma vez mas foi num dia em que carreguei muito peso e foram só uns respingos. Com o passar do tempo, por volta do sétimo mês, meu médico me disse que eu já podia ficar mais calma e até voltar a me exercitar, contanto que o fizesse de forma moderada. Eu tinha parado com a fisioterapia-pilates-isostretching que eu fazia por conta de um acidente que me causou várias hérnias de disco na coluna e então optei por fazer só caminhada leve. Caminhava durante meia hora, três vezes por semana, em volta da pracinha na frente de casa. Sempre com roupas confortáveis, calçado adequado e o celular à mão caso houvesse algum problema. Além da minha inseparável garrafinha d’água. Eu chegava a beber 500ml durante cada caminhada. Se eu sentia uma dorzinha eu logo parava e voltava para casa para descansar.

E assim eu fui levando a gestação. Isabel nasceu prematura no final. Mas por um dia apenas! Se tivesse nascido seis horas mais tarde seria ‘a termo’. Chegou saudável e chorando. Foi direto para o quarto comigo.

Até hoje eu não sei se meu útero é bicorno ou didelfo. Como eu consegui – apesar dos apesares – ter meu tão ansiado parto natural, não deu para o médico descobrir. Isabel passou a gestação inteira só do lado direito do meu útero. Quando eu me deitava de barriga para cima dava para vê-la apertadinha lá. Esse lado cresceu e se expandiu e o outro encolheu para dar espaço a ela de forma que no final da gravidez ela já ocupava meu ventre todo. Nasceu pequena, com 46cm e 2,445kg.

Sei que fomos muito sortudos, que não é todo mundo que tem uma anomalia uterina e que passa por tudo isso e ainda tem um final feliz. Mas eu quis contar o meu porque me lembro de, desesperada, procurar no Google coisas como "anomalia uterina E bebê saudável" ou "anomalia uterina E parto normal" e raramente encontrar algo positivo, que me acalmasse e acaletasse. Não quero fingir que não foi nada, que mesmo fazendo burrada no final tudo dá certo. Pelo contrário, quero alertar quem está passando pelo mesmo tipo de problema sobre os perigos e cuidados que se tem que tomar. Não sei se eles sempre serão suficientes mas pelo menos fazemos o que podemos.

Cheguei lá! E agora?

Passei a licença-maternidade inteira achando que quando chegasse ao meu peso pré-Isabel eu teria minha barriga pré-Isabel de volta. Não me levem a mal. Curti demais meu barrigão, fiz um book de grávida amador, mas depois que o bebê nasce já não é a mesma coisa!

Engordei pouco na gravidez. Uma semana antes de dar à luz havia engordado apenas 9,300kg. E duas semanas depois de Isabel nascer só me faltavam 3kg para chegar aos tão ansiados 55,5kg.

Mas parecia que esses 3kg tinham vindo para ficar.

E eis que no começo desta semana fui me pesar e descobri que cheguei lá! Os ponteiros da balança - tá, vai, era uma balança digital - marcaram 55,6kg. Que dá na mesma que 55,5kg, rs. Nem sei como consegui. Acho que voltar a trabalhar e ter uma rotina mais agitada, com menos tempo para comer e mais coisa para fazer, ajudou. Minha produção de leite também aumentou já que agora tenho feito a ordenha mais regularmente pois tenho que ter sempre leite extra no congelador para Isabel poder tomar na minha ausência. E (só) agora acredito mesmo que produzir leite ajuda a perder peso.

Mas a barriga...

Totalmente diferente! Quando eu me sento ela vira uma bola gelatinosa protuberante, meu umbigo se encolhe todo, pressionado pelo peso da banha... De pé o estrago é menor mas ainda assim visível. Então me dei conta de que se antes eu era 55,5kg de puro músculo pois adorava me exercitar, hoje sou 55,6kg de algum músculo e muita gordura localizada!

E o pior é que dizem que essa gordurinha ao redor do umbigo é a mais difícil de enxugar. Minha esperança são os abdominais no bozú que devem começar em duas semanas quando Isabel completa 6 meses e chega ao fim a amamentação exclusiva. Aí não terei que me preocupar tanto se a produção de leite diminuir por conta dos exercícios físicos porque ela já não dependerá só do meu leite.

E então eu conto se os abdominais surtiram efeito!

sábado, 25 de junho de 2011

Dividir para Multiplicar

Criei este blog com o intuito de dividir com outras mães - e especialmente com outras futuras-mamães - muito do que eu aprendi e venho aprendendo acerca da maternidade. Eu gostaria de poder contar aqui tudo o que eu não sabia antes de engravidar e gostaria que tivessem me contado. Tudo de que eu acho que se eu tivesse tido conhecimento antes, teria me ajudado a evitar muito sofrimento, dúvidas e aflições.

Por isso os próximos posts terão esse enfoque. Falarei sobre a gravidez, a amamentação, os problemas que eu enfrentei, como eles foram ou não resolvidos, o que eu faria diferente, etc.

E é claro que intercalarei tudo isso com abobrinhas e relatos gostosos sobre o crescimento e desenvolvimento de minha filha Isabel! Para lembrar que este é só mais um blog de mãe, mas que para mim é especial.

Duas Carequinhas...

Estamos ficando carecas, Isabel e eu! Como se não bastasse ambas termos a testa grande... Sim, Isabel teve a infelicidade de puxar de mim a coisa que mais detesto no meu corpo! Será escrava da franja para sempre, como a mãe, a menos que ela tenha mais coragem que eu e entre na faca!

Enfim. Estamos ficando carecas!

Ela, porque chegou à idade em que os cabelos começam a cair. Está perdendo cabelo dos lados e na frente. E justo atrás, onde eu achei que ela perderia logo por ficar encostada na cadeirinha, está tudo intacto!

Eu, porque sempre que deixo meus cabelos soltos ao vento logo tenho que prendê-los ou Isabel dá uma de Tarzan e agarra minhas madeixas como se elas fossem cipós, quase me escalpando!

Meus óculos e correntinha também são alvos freqüentes desses bracinhos que de frágeis so têm a aparência...

Como é linda a maternidade!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Tagarela!

Isabel é uma tagarela! Meus sobrinhos, na sua idade, não falavam o tanto que ela fala. Ela demorou para começar a emitir sons que não fossem de choro mas também... depois que engrenou...

No começo ela emitia os sons de vez em quando - e eu sempre corria para filmar. Até hoje me derreto toda. É a coisa mais linda do mundo! Muitos "aúúúúú"s estão documentados. Era o som que ela mais fazia.

Hoje o repertório está mais variado. E duas vezes incluiu até consoantes: "lalala" e uma palavra totalmente desconhecida: "balaúk"! Acho que ela fala árabe... Eu sempre quis aprender!

Umas duas semanas antes de eu voltar a trabalhar, no carro, ela me surpreendeu. Lá estava eu, dirigindo, e lá estava ela, na cadeirinha atrás do banco do motorista. E do nada ela deu início a um monólogo interminável. Achei lindo demais. E começamos a conversar. Ela emitia os sons e eu os repetia. E aí ela falava alguma outra coisa e eu tornava a repetir o que ela havia dito.

Sempre fiz assim. Desde o primeiro som.

E eis que um dia eu leio no BabyCenter que ao fazer exatamente isso - repetir os sons que nossos bebês emitem logo após eles o terem feito - fazemos com que eles achem que nós os compreendemos. Que falamos a mesma língua. Que de fato estamos tendo um diálogo.

E isso os estimula a falar mais e mais.

Acompanhar o crescimento dos nossos bebês é fascinante. Observar como se forma um ser humano, como ele aprende as coisas, como se forma sua personalidade, como ele aprende a se comunicar por meio de gestos, sons, olhares, palavras... é simplesmente encantador. Eu fico admirada vendo como Isabel se diverte ao vocalizar. Ela se diverte mesmo! De verdade! Brinca sozinha!

Às vezes tenho que fazer algo num outro cômodo e a deixo sozinha por um tempo e quando estou voltando, lá de longe, escuto mais um de seus monólogos. É incrível como ela fica feliz. Como se se divertisse ao descobrir que é ela quem produz aqueles sons. Que ela é capaz disso.

Li no BabyCenter um trecho que resume bem esse fascínio dela de que eu falo:


"A vocalização é uma brincadeira para a criança, que faz experiências usando a língua, os dentes, o céu da boca e as cordas vocais para produzir todo tipo de sons engraçados. Ela se diverte quando descobre que é ela quem faz tudo aquilo, fica estimulada a repeti-los e a procurar novos barulhos."

Mas o melhor mesmo ainda estava por vir.

Certo dia Isabel me acordou no meio da noite. Até aí nada demais. Mas ela não me acordou com um choro. Ela não estava chorando. Nem reclamando.

Estava falando!

Liguei a luz do celular e a lancei sobre o seu rostinho, esperando ver seus olhinhos de jabuticaba bem abertos e atentos (afinal, ela estava falando, balbuciando, então tinha que estar acordada, né!) Não! Ledo engano. Eles estavam bem fechados.

Fiquei lá um bom tempo rindo e admirando-a. Sei lá, acho que ela devia estar sonhando e conversando com alguém (algum palpite de quem!? rs) no seu sonho.

E desde então isso já aconteceu mais duas vezes.

Daqui a pouco ela estará fazendo altas revelações durante seu sono. Como minha irmã, que, enquanto dormia, na noite em que completou cinco anos foi ouvida 'conversando' com o menino de quem secretamente gostava: "Tomas... Tomás... eu tenho cinco anos. Eu fiz aniversário." Explicação: ele era um ano mais velho do que ela, rs!

Essas crianças...!

...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Quando furar a orelhinha virou uma furada...

Minha orelha foi furada ainda na maternidade, quando eu tinha apenas três dias de vida. Desde então eu nunca deixei de usar brinco - adoro! Me sinto pelada sem. Sempre pensei que quando e se tivesse filhas, faria o mesmo com elas. Mas na maternidade em que Isabel nasceu eles não disponibilizam esse tipo de serviço. "Sem problemas", pensei. "Depois eu furo". E como uma enfermeira do berçário me deixou seu telefone dizendo que fazia o serviço na minha casa se eu quisesse, não me preocupei muito com esse assunto. Tinha tantas outras coisas na minha cabeça - a prematuridade de Isabel, seu baixo peso, o cansaço, as emoções - que na hora, colocar um brinquinho nela não era nem de longe uma prioridade.

E o tempo foi passando e eu fui cada vez mais me esquecendo dessa história.

Até que um dia, quando Isabel já tinha quatro meses, me deu os cinco minutos e eu decidi que tinha que furar a orelhinha dela para ontem! Viviam me perguntando se ela era menino ou menina. Tá certo que o carrinho dela e muitas roupas e mantinhas são azul já que pertenciam ao meu sobrinho. Mas ela tem mesmo uma carinha unissex, digamos assim, rs. Também todos me diziam que quanto antes se fura, melhor, porque com o tempo a pele do lóbulo vai ser tornando mais dura e dói mais. E mesmo sabendo de tudo isso e de que ela ficaria linda de brinco, eu fui adiando.

Quando decidi furar sua orelhinha me dei conta de que o telefone da tal enfermeira do berçário estava gravado no meu celular - que meus sobrinhos tinham feito o favor de quebrar! Fui então ao banco de leite falar com as enfermeiras de lá que já são minhas amigas, rs. Elas não têm autorização para furar lá e disseram que pela idade da Isabel o melhor mesmo era furar na farmácia, com pistola.

E aí toca achar uma farmácia que fure orelha de bebê de quatro meses. As grandes redes têm como política não fazê-lo, sei lá por quê. Fui a uma de bairro mas estava sem luz. Fui a outra e eles não tinham quem o fizesse.  E finalmente, na terceira, disseram que fariam na mesma hora.

Comprei o brinquinho. Queria um de pérola igual ao que eu gosto de usar mas eles não tinham. Como eu pretendia comprar um de ouro depois, acabei escolhendo um de brilhantinho. Sentei-me numa cadeira, coloquei Isabel sentadinha no meu colo conforme a farmacêutica havia solicitado e segurei seus braços com um braço meu e sua cabecinha com minha outra mão. Fiz tudo direitinho. Aí a moça pegou a caneta para marcar a bolinha dos furos. Mas ela não marcou uma bolinha! Marcou um risco. Pedi que refizesse. Ela refez. Conferi. Beleza, tudo nos trinques. Primeiro furo. Ai! Isabel, tadinha, não sabia o que lhe esperava. Desatou a chorar desesperada. Segurei-a junto ao meu peito, acalmei-a e ela logo se recompôs. Averigüei o trabalho da moça. Ótimo.

Segundo furo. Mesma coisa. Mas Isabel gritou mais alto. Nem bem o furo tinha sido feito tirei o peito para fora e lhe dei de mamar, como faço depois das vacinas, para aliviar a dor. Desta vez não averigüei o trabalho da moça. Pra quê... Quando Isabel terminou de mamar e se pôs a, feliz da vida e curiosa, ficar zoiando os remédios das prateleiras, levei um susto! O furo estava totalmente fora do lugar! A marca de caneta estava lá no seu devido lugar e o furo lá em cima perto do canal do ouvido.

Conversei com a mulher que disse que em um mês iria “ceder” e ficar no lugar. Mas ela não me convenceu. Se fosse assim então porque marcar a bolinha em outro lugar? E na outra orelha em que ficou bom, o furo em cima da marca? Ela ainda teve a audácia de sugerir que uma orelha da Isabel era bem maior que a outra! Eu sei que todos somos assimétricos e sei também reconhecer e admitir os “defeitos” estéticos da minha filha. Mas uma orelha bem maior que a outra ela não tem!

Fiquei calma o tempo todo porque sabia que não havia nada a fazer. Só me culpar por ter ido na primeira farmácia que me deu na telha. E isso só porque eu estava com pressa de furar a orelhinha, sendo que eu mesma havia tardado tanto em fazê-lo!

Comprei o tal spray anti-séptico. A recomendação era borrifar três vezes ao dia por uns quinze dias, até cicatrizar o furo. Para que o brinco não colasse à pele eu deveria rodá-lo todas as vezes que borrifasse o spray.

Cheguei em casa, tirei os brincos – tarefa nada fácil pois Isabel começou a chorar de dor e eu senti um peso no coração e na consciência. Borrifei o anti-séptico nos furinhos, na frente e atrás por umas duas semanas, mais de três vezes ao dia.

Agora aparentemente eles já cicatrizaram. O que estava errado está imperceptível, mas o que estava certo ficou com um pontinho escuro. Não sei bem o quê é. Se é alguma casquinha que ficou lá dentro, se ainda não cicatrizou por completo... estou aflita e na dúvida. Nem deveria ter tirado o brinco do furo que estava bom mas no desespero...

Agora toca procurar alguém que saiba furar direito a orelhinha de um bebê de agora cinco meses! Porque se na segunda vez der errado acho que só volto a tentar daqui a uns sete anos! E nesse meio tempo porei brinquinho de pressão nela, se é que isso funciona em bebê!

Meu apelo é para aquelas pessoas que são de São Paulo (capital), e que conhecem alguém que fura bem orelhinha de bebê. Se puderem deixar nome e telefone para contato, uma mãe bem destrambelhada aqui agradece! E uma filhinha cobaia-por-engano também!

sábado, 18 de junho de 2011

Carta Àquela Boa Sensação

Dia desses, no trabalho, fui ao banheiro - justamente onde, há cerca de um ano, eu fiz os primeiros dois testes de farmácia que confirmaram o que eu e o meu marido já sabíamos. E lá, lavando as mãos e me olhando no espelho, por uma fração de tempo, você me veio: a mesma sensação surreal que eu tive ao me olhar no espelho depois de descobrir que de fato eu estava esperando um bebê. Que de fato eu já era mãe.

Engraçado como você ficou perdida no tempo. Como você desapareceu da minha vida lenta e discretamente, de forma que eu, tão envolvida no turbilhão de emoções da gravidez e do cotidiano, me esqueci de você, de como você é, e de como você mexe comigo e me faz feliz.

E quando senti tua presença novamente senti também um calafrio. Tanto de que eu havia me esquecido! Era outra época. Eu ainda era mais menina e menos mulher. Não sabia que esperava uma garotinha. Que seu nome era Isabel. Que ela era meu clone. Eu nem sabia que era uma só! Eu tinha certeza de que eram gêmeos. Eu não sabia que eu teria o meu tão desejado parto natural, que sofreria várias ameaças de aborto, que engordaria bem menos do que eu imaginava, que ficaria com estrias nos seios. Não sabia a data do dia mais emocionante da minha vida. Mas ficava a me perguntar, fazendo cálculos e mais cálculos inúteis. Não sabia de nada. Só sabia que estava diante do maior acontecimento da minha vida. Algo que eu sempre desejei e que por isso mesmo eu não acreditava que estava acontecendo. O resto era uma deliciosa incógnita que eu tinha ânsia por desvendar e pressa nenhuma.

Então um dia qualquer, entendendo que você já não era mais a protagonista daquele momento, você saiu de fininho. Mas te agradeço por não ter ido embora para sempre. Por ter apenas ficado nos bastidores, aguardando sua hora de brilhar novamente. Muito esperta você! Sabia que se ficasse lá do meu lado sempre eu me acostumaria a você e não te daria teu devido valor. E quão valorosa você é!

Você reapareceu num momento mais do que oportuno. No momento em que eu volto a trabalhar e em que ter a Isabel comigo estava começando a se tornar "normal". Em que eu estava me acomodando e me acostumando a minha nova rotina, esquecendo-me da sorte que eu tenho de Isabel ter me escolhido sua mãe.

E me fez chorar copiosamente, como há muito não faço. Solucei até! Não foi aquele choro contido que eu choro quando vejo Isabel me fitar enquanto mama como que tentando me entender. Nem aquelas lágrimas que logo se transformam num sorriso quando ela 'conversa' comigo ou, curiosa, observa o mundo atenta do meu colo com seus olhinhos de diamante negro e seus cícilos de vassoura.

Desta vez foi diferente. Foi como o choro de uma criança que, distraída com tantos brinquedos, de repente vê sua mãe doando seu brinquedo favorito - mas esquecido - a um orfanato e nada pode fazer. Uma sensação de culpa por não ter dado valor a algo que tanto se preza e que portanto, de forma justa, se vai. Quase como se se eu tivesse feito mais esforço para não te deixar cair no olvido, você teria ficado do meu lado sempre. E foi um choro de saudade. De desespero por não poder controlar o tempo. Por não poder te controlar. Por ter te esquecido. Por não poder te trazer de volta quando eu bem entender. Você e tantas outras boas sensações que eu vivi e vivo. E que eu não sei quando, nem se jamais terei a sorte de reviver. Mas foi também um choro feliz, de alegria por ter tido você em algum momento da minha vida e de gratidão por poder revê-la, mesmo que brevemente.

E aí, você, satisfeita e certa de ter atingido seu objetivo, se foi novamente.

Sei que não consigo e nem devo tentar te manter ao meu lado a todo instante pois tua presença se tornaria banal. Só te agradeço por não ter se esquecido de mim como eu me esqueci de você e te peço que venha me visitar de vez em quando.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Depressão Pós-Parto Masculina

Quando Isabel tinha um mês e meio levei-a ao meu local de trabalho para que o pessoal pudesse conhecê-la (não quis receber visitas na maternidade nem em casa, depois falo sobre isso). E com Isa nos seus braços, minha chefe - que na época estava grávida de uns sete meses de sua segunda filha - me disse que seu marido havia lhe confessado que não sentia falta dos primeiros três meses do bebê.

Eu até entendo, já que nessa fase o bebê está muito mais ligado à mãe do que ao pai, fora que a criança é mais um "saco de batatas" como uma mãe uma vez me disse, apesar de eu ter amado cada instante.

E por ter ouvido isso da minha chefe eu me lembrei dela quando li um artigo na UOL hoje sobre a depressão pós-parto que acomete os pais. Acredito que o acesso seja livre, não só para assinantes, já que eu mesma não assino a UOL, mas se alguém quiser ler o artigo e não conseguir acessá-lo, deixe um comentário que eu tentarei reproduzi-lo aqui.

Eu, que sofri de "baby blues" (uma forma mais light de depressão-pós-parto), acho extremamente importante e útil que se quebrem tabus e se aborde de forma cada vez mais natural esse tipo de fenômeno para que as pessoas não se sintam anormais, sozinhas e desamparadas e para que saibam lidar e superar esses problemas.

Segue o link para o artigo: http://estilo.uol.com.br/comportamento/ultimas-noticias/2011/06/14/homem-tambem-sofre-de-depressao-pos-parto-entenda-o-problema.htm 

sábado, 11 de junho de 2011

Editando

Tive que editar a postagem anterior ("A Outra Independência") porque ao relê-la percebi que além de faltar muita coisa, algumas não estavam muito claras e passavam uma idéia distorcida, não era o que eu queria dizer.

Para quem quiser ler a nova versão mas não está com paciência de ler tudo de novo (eu até entendo, rs!), a maior parte das mudanças ocorre depois do parágrafo que começa: "Não adianta dar a eles de tudo...".

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Outra Independência

Muito se fala hoje em dia sobre a importância e a necessidade de criarmos filhos independentes. Embora seja difícil cortar o cordão umbilical é grande o número de pessoas que compreende a urgência de formarmos seres mais evoluídos, auto-confiantes e que saibam ouvir seu próprio coração e seguir seu destino a caminho da tão sonhada felicidade.

Em meio a tantas discussões sobre independência é comum ouvirmos as pessoas - especialmente os jovens - dizerem que almejam sobretudo a independência financeira. Natural, considerando-se que vivemos em um mundo em que se você tem dinheiro tem tudo. Ou pelo menos parece ter. Quem é independente financeiramente geralmente não depende de pai, mãe, marido ou irmão para fazer o que bem entender da sua vida e, infelizmente, em alguns casos ainda usa essa sua situação privilegiada para tentar controlar a vida dos outros que eventualmente dependam dele ou dela. A independência financeira está associada ao último dos desejos do homem. Aquele que ele sente que lhe foi roubado e que, mesmo que inconscientemente, todos nós queremos de volta: a liberdade.

Mas será que finalmente lograr a independência financeira significa ser mais livre do que se era antes de possuí-la?

Na minha concepção, não. Apesar de eu concordar que ela seja importante, de me agradar muito a idéia de eu ter condições de me sustentar com meu trabalho, e de querer que meus filhos também tenham, acredito que haja um outro tipo de independência mais imprescindível. E é essa independência que eu quero passar para meus filhos, antes mesmo de tentar ensiná-los o caminho da independência financeira. Quero ensiná-los a serem independentes do dinheiro. Mas isso é indiscutivelmente mais difícil de se fazer do que simplesmente mostrar-lhes como ganhar o próprio sustento!

Ser independente do dinheiro é muito mais do que não ser escravo dele. Essa expressão, "ser escravo do dinheiro" normalmente está associada a pessoas muito abastadas que esbanjam e só pensam em enriquecer mais ainda, enquanto eu acredito que qualquer um possa e deva aprender a ser independente do dinheiro, não só os ricos.

Ensinamos nossos filhos a serem independentes financeiramente já ao alfabetizá-los. Acreditamos que os impulsionaremos cada vez mais nessa direção quanto melhores forem as escolas que eles freqüentarem, o número de línguas que eles falarem, as notas que eles tirarem. Mas e se isso tudo der errado? E se por um golpe do destino nossos filhos de repente se virem sem um tostão, numa situação financeira muito pior do que aquela a que estavam acostumados?

Me lembro de uma vez em que conversava com meu pai sobre uma crise econômica e um billionário que havia cometido suicídio porque havia perdido milhões. Mas... um bilionário, quando perde "apenas" milhões, não continua rico? Sim, esclareceu meu pai. Mas para o padrão de vida a que ele está acostumado, é o fim do mundo passar de "billionário" a "milionário". E no "desespero" ele decide acabar com sua própria vida. Meu marido diz: "Pobre quando fica rico rápido se deslumbra e perde o chão, e rico quando fica pobre rápido se desespera e vai para debaixo dele!". Não podia estar mais com a razão.

Ser independente do dinheiro é ser verdadeiramente livre. É saber viver com pouco e ainda assim ser feliz e realizado/a, como naquela música "Moça Rebelde" do Vítor e Leo. E não estou falando aqui só de coisas românticas como apreciar as coisas simples da vida, o nascer do sol e etc., etc., etc.. Estou falando de conseguir levar o cotidiano adiante mesmo perante um eventual empobrecimento instantâneo e inesperado, sem perspectiva de retorno ao padrão de vida antigo.

Mas então, como fazer para ensinar nossos filhos a serem não só independentes financeiramente mas também independentes do dinheiro? Não mimá-los demais já é um bom começo! E estou falando de coisas materiais, não de amor - se este for amor de verdade, e não um controle mascarado, é claro. Mostrar-lhes o valor do dinheiro também vale, embora esse seja um clichê. Como se mostra o valor do dinheiro a um filho? É muito mais difícil do que se pensa.

Não adianta dar a ele de tudo e então levá-lo a uma região miserável para que ele veja o quanto ele é privilegiado. Isso não o fará dar valor ao dinheiro. Também não estou falando de privá-lo de todos os tipos de conforto só para não estragá-lo. Tudo com equilíbrio.

Quero dizer que precisamos mostrar-lhes parâmetros do que é aceitável. Por exemplo, uma variação do quanto é justo pagar por algo, como uma bolsa ou um carro. Dessa forma, mesmo que seu filho um dia se torne milionário, não fará a besteira de gastar R$ 1.000.000,00 num carro ou R$ 3.000,00 numa bolsa. Ele saberá que isso é esbanjar e, na minha opinião, assinar um atestado de burrice.

É muito fácil se acostumar a um padrão de vida melhor mas é uma tarefa árdua e um exercício de evolução se adequar a um padrão mais baixo. E nunca se sabe que rumo nossa vida tomará. Quando se tem parâmetros concretos, é mais fácil evitar se deslumbrar na fartura ou se desesperar na crise. É necessário ser pé-no-chão.

Não se trata aqui de ser mão-de-vaca, apenas a saber se impor limites do que é básico e o que é supérfulo. O que é luxo e o que é necessidade.

Eu penso em dar mesada conforme eles realizam tarefas para ajudar em casa por exemplo (não, não é exploração de crianças!) e ensiná-los a administrar seus gastos com planilhas no Excel como eu faço. Noções de economia (incluindo doméstica) e de investimentos também têm espaço nos meus planos (detesto fazer planos mas é inevitável!).

Outra forma é incentivá-los a trabalhar quando eles já tiverem uns 15, 16 anos. Não trabalhar um expediente inteiro, por suposto, mas fazer algo útil naquelas férias em que não vão viajar por exemplo. Aqui no Brasil não é comum mas lá fora é. Jovens adolescentes de todas as classes sociais passam as férias trabalhando como vendedores em loja, caixa de supermercado, atendente no McDonald's. E isso lhes traz uma experiência de vida importantíssima além de ajudá-los quando eles eventualmente tiverem que decidir por uma carreira.

Mas o que eu acho que mais fará a diferença, será se conseguirmos ensiná-los a serem "well-rounded". Desculpe a expressão em inglês mas ela sintetiza bem o que eu quero dizer. Uma pessoa "well-rounded" é aquela que possui habilidades numa variedade de áreas ("well" = "bem", e "rounded" vem de "round", "redondo", ou seja, que cerca e abrange vários lados). Gostaria de poder educar meus filhos de forma que eles saibam cozinhar mais do que um miojo e um ovo frito, saibam costurar, tenham noções de elétrica, hidráulica, mecânica, medicina, física, química, biologia, línguas...

Quero eu então súper filhos!? Súper dotados, gênios!? Não, longe disso! Eu mesma fui sempre a primeira da classe e isso não me agregou nada. Só perdi tempo demais com os livros. Tempo este que eu poderia ter passado vivendo e vivenciando mais e aprendendo coisas da vida na prática, coisas que realmente me serviriam na fase adulta.

Estou falando de um conhecimento geral e obviamente mais superficial. Não quero um chef, uma estilista famosa, um Einstein da vida (embora se eles forem também não vou reclarmar, hehe!). Apenas me encantaria se eles conhecessem um pouco de todas essas coisas.

Mas o que isso tem a ver com ser independente do dinheiro? Tudo. Imagine que você de repente se vê contando os centavos e um cano em casa estoura. O quê você faz? Chama o encanador. Que vai te cobrar... mas você não tem dinheiro! Se você tem noções de hidráulica, você pode você mesmo ir comprar as peças necessárias por um preço justo, executar o serviço e não ter que pagar a mão-de-obra. Tá certo que às vezes ficaria uma gambiarra mas estamos falando de uma situação financeira apertada. De saber se virar sozinho. Você não depende de ninguém nem do dinheiro para resolver seu problema. Só de você mesmo. E é por isso que quem não é rico também precisa aprender a ser independente do dinheiro.

Hoje tenho umas cinco calças que precisam ter a barra feita para ontem. Mas, como não sei costurar, tenho que mandar na costureira. Se eu soubesse costurar, se tivesse aprendido com minha avó que tinha isso como profissão, eu já estaria desfilando por aí com minhas calças novas e estaria economizando uns reais.

Mas mais do que te ajudar a economizar, conhecer um pouco de várias áreas pode te ajudar quando você inesperadamente se vê sem colocação no mercado de trabalho e precisa arranjar um ganha-pão qualquer. Quem sabe um pouco de tudo nunca fica sem serviço. Quem não sabe fica preso, escravo de um nicho.

Nâo estou dizendo que não se deva fazer faculdade, mestrado e quem sabe doutorado e especializar-se em algo - embora eu ache sim que o Brasil perde muito por ser um país em que "para ser publicitário tem que ser formado em Publicidade", etc.. Mas acredito que o ser humano é tão complexo, intrigante e interessante, que isolar-se numa área e ficar alheio a outras é um atraso de vida. Sem falar que alguém cujos interesses se espalham por muitas disciplinas sabe lidar melhor com todos os tipos de pessoa e tem sempre assunto para conversar. Vale a máxima de que "uma pessoa interessada é uma pessoa interessante". E nós bem sabemos o quanto vale nesta vida ser uma pessoa interessante.

Por tudo isso acredito que é fundamental incentivar nossos filhos a terem hobbys. Mas acredito que estes interesses tenham que florescer naturalmente se não não será prazeroso para eles e o tiro sairá pela culatra. As outras coisas que não lhes instigarem tanto, têm sim que ser ensinadas, mas de forma leve, nada forçado. Apenas para que eles mais tarde tenham aquele conhecimento caso lhes seja necessário.

"E como ensinar meus filhos sobre jardinagem, navegação, mecânica, se eu não sei nada sobre isso!?" Se tiver condições financeiras (ah, sempre o dinheiro!) coloque-os num curso daquilo que mais os interessar (é importante tentar não forçá-los a seguir um caminho específico que é o SEU sonho e não o deles) e procure passar o que sabe. O que você não sabe, certamente um amigo, um parente ou um conhecido saberá e terá prazer em ensinar. Só não vale entupir a criança de cursos e não passar tempo com ela! Aí sim vai dar tudo errado porque o contato e lazer com os pais é imprescindível. É prioridade!

Uma outra forma, que é minha preferida, é de aprender junto com a criança. Estimular sua criatividade e explorar o mundo de mãos dadas com ela. Ensiná-los a serem auto-didatas, a fazer e empinar sua própria pipa - vale procurar como se faz na Internet, num livro, ou perguntar a alguém -, a brincar na natureza, a se exercitar ao ar livre, trepando numa árvore ou nadando num rio, a aprender as leis da física, da química e da biologia na prática, construindo seus próprios brinquedos, uma casa na árvore... enfim, a ter uma curiosidade saudável e uma gana de viver insaciável. De quebra você também cresce como pessoa e volta a ser criança, no sentido mais puro da expressão.

Pelo menos é assim que eu pretendo e gostaria de educar meus filhos. Vamos ver...!

 
Dedico este post a um homem verdadeiramente livre e independente que procura sempre me ensinar a também sê-lo, embora eu ainda esteja engatinhando! Só uma pessoa verdadeiramente livre e que ama de verdade deseja a liberdade daqueles que a cercam.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sorteio na Nave Mamãe!

O blog de mãe que eu acompanho há mais tempo, que eu visito com maior freqüência e o único em que comento regularmente está com um sorteio súper legal! A Dani, do Nave Mamãe (www.navemamae.blogspot.com) está sorteando uma mamadeira da Dr. Brown.

É aquela que além de melhor manter as vitaminas e nutrientes em geral do leite materno, possui um dispositivo que faz com que a força que o bebê tem que fazer para mamar seja a mesma (ou pelo menos muito parecida) com aquela que ele tem que fazer para mamar no peito. Nas outras mamadeiras, ele tem que fazer menos força, o que faz com que muitos bebês preguiçõsos (!) depois de algum tempo mamando na mamadeira, não queiram mais o peito porque "dá muito trabalho", rs.

Para quem teve que voltar ao trabalho como eu e precisa dar mamadeira para seu bebê e gostaria de amamentar no peito por muuuuito tempo ainda, é uma mão na roda!

Para participar é só visitar o blog, procurar a postagem "Sorteio" (é recente), deixar nome e e-mail... enfim, está tudo lá!

E por escrever este post estou participando em dobro, rs! Mas sério, o blog é bom!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Linguagem do Amor

Há muitos anos vi dois documentários, em épocas diferentes, que hoje percebo que se complementam e passam uma mensagem muito pertinente, especialmente para nós mães.

Um deles era sobre um garoto de uns 8 anos que havia nascido numa condição raríssima, especula-se que ele seja a única pessoa de que se sabe que nasceu assim: cego, surdo-mudo. Ou seja, totalmente isolado do mundo.

Agora, façamos uma pausa para imaginar o que é nascer assim. Ou ainda, o que é ser mãe de um ser que nasce assim.

Desesperador, é o mínimo. Não só pelas preocupações quanto ao futuro e independência do filho, mas também em pensar que ele jamais saberá quem você é, o quanto você o ama. Ele jamais ouvirá sua voz, jamais te ouvirá ninando-o, te perceberá sorrindo para ele... é muito triste.

Mas então, pensando nesse garotinho, me lembrei do outro documentário. Era sobre uma mulher adulta que também havia nascido numa condição raríssima. Ela não tinha o sentido do tato. Isso mesmo, ela não "sentia" as coisas, fisicamente falando. Não é muito comum. Geralmente as pessoas são cegas, surdas, mudas... mas como se denomina alguém que não tem o sentido do tato!? De tão raro que é acho que nem nome tem!

Enfim, ela foi objeto de vários estudos e um deles, extremamente interessante, descobriu que ela podia sim sentir quando alguém gentilmente passasse um pincel bem macio sobre sua pele. Concluiu-se então, que devemos ter um outro tipo de rede de sentidos semelhante ao do tato, mas que só é ativado com muito carinho.

E pensando nisso eu me dei conta de que a única forma, a única linguagem que essa mãe poderia usar com seu filho, a única coisa que funcionaria, que os uniria e os ajudaria a se comunicar, era o amor. Não precisa enxergar, ouvir ou falar para entender o carinho contido num abraço apertado, o bem querer de um beijo marcado, o amor de uma carícia.

Por isso acho imprescindível dar amor, beijos, abraços, brincar com as crianças. Sobretudo os bebês pequenos que de certa forma também são cego-surdo-mudos pois não enxergam bem, não entendem o que lhes dizemos e não sabem falar. E com essa convicção me despeço hoje para dar uns beijinhos e uns cheiros na minha sobrinha de apenas 17 dias! Ai, que gostoooooooooooso!