E só para mostrar que eu falo sério, vou aproveitar que hoje estou de folga, a Isabel está dormindo e estou sozinha em casa, para atualizar.
Na noite de Natal, à meia-noite em ponto, eu acordo - sim, eu já estava dormindo - com um choro da Isabel. Vou pegá-la no berço e quase tenho um treco quando percebo que ela está PE-LAN-DO! Eu nunca a senti tão quente assim. Tiro seu capacete (já vou falar sobre isso), sua roupa, saio para fora para ela pegar um vento e vou medir sua temperatura. 38.9 graus. Corro para o PS. Nem quis ficar dando anti-térmico e esperando. Tenho certeza que devia estar mais alto do que isso porque acho que o vento a esfriou um pouco.
Só que estávamos viajando. E aqui na praia só tem um posto do SUS.
Temos convênvio médico pela empresa então quase nunca temos que recorrer à saúde pública. Mas dessa vez fomos. E fiquei bem desconcertada.
O médico me chama. Entro na sala. Tem dois enfermeiros lá dentro e um residente. Eu com a Isabel no colo, a minha bolsa, a malinha dela e não tem nem cadeira para eu me sentar! Ninguém pergunta se quero ajuda, se quero que segurem a malinha dela, enfim. Ele me pergunta o quê ela tem. "Febre", digo. Mostro o papelzinho que peguei na triagem comprovando o fato. Aí ele, sem examiná-la clinicamente, começa a preencher uma guia de pedido de exame de sangue. Eu completo "Ela já teve infecção urinária, doutor. Não era bom pedir um exame de urina?". Ele se vira para o residente "Aí nem todas as pessoas são tão lúcidas quanto essa mãe né, então você tem que tentar tirar as informações". Como assim? Ele não me perguntou nada e está dizendo para o residente que ele tem que "tirar todas as informações"?
Eu completo: "Doutor, acho que ela está com catapora". Ele finalmente se interessa. "Ah é? Deixa eu ver". Mostro umas marquinhas no bumbum dela, que eu inicialmente achei que fossem apenas brotoejas devido ao calor egípcio que fazia por aqui na época.
- É, pode ser. Faz esses dois exames e daí a gente vê.
Vou ao posto de enfermagem. Uma mulher, sem unfirmorme, sem identificação está atendendo juntamente com as enfermeiras. Como ninguém lá está expulsando-a eu a deixo me atender. Com o maior mau-humor do mundo ela me manda segui-la a uma sala.
Pediu que eu deitasse a Isabel na maca, sem papel de proteção. Até aí tudo bem, mas eu já fiquei de antena ligada. Pegou um coletor de urina e me perguntou, na maior cara-de-pau :"Você não tem nada para limpar o bumbum dela?".
Como assim? Não é o hospital que deveria ter esse material? Nisso uma enfermeira se aproxima e, também sem luvas, auxilia a tal mulher. Pego os lenços umidecidos que tenho na malinha da Isabel e começo a limpá-la, já sabendo que nesse exame eu não poderia confiar pois a amostra seguramente estaria contaminada. A tal mulher, sem luvas, com unhas compridas e mal-esmaltadas coloca o coletor na Isabel. E então dá início ao exame de sangue. Fura daqui, fura dali. Não acerta. Isabel chora. Eu ficando impaciente, querendo pegá-la nos braços e sair correndo dali. Pensando que era melhor só ter dado paracetamol. Quando o exame acaba ela coloca o dedo em cima do ponto que havia sido furado, sei lá eu por quê. Limpa com um algodão. O descarta. E manda eu ficar de olho do coletor da minha filha porque quando ela fizesse xixi eu teria de avisá-las.
Esperei umas duas horas. Nada de a Isabel fazer xixi. Disse à enfermeira que iria para casa. Estava cansada.
Para tornar uma história longa numa história menos longa: no final era catapora mesmo. Voltei ao PS durante quatro dias seguidos. No segundo dia para confirmar o diagnóstico. No terceiro porque o olho da Isabel estava inchado (ela havia coçado uma ferida da catapora e passado a mão no olho - o que causou uma infecção. Ela teve que tomar antibiótico). E na última vez porque ela não parava de coçar o ouvido. Achei que fosse outra infecção (embora soubesse que o antibiótico já deveria dar conta de tudo). Mas o médico disse que ela estava com catapora no canal do ouvido. Ou melhor, dos dois ouvidos. Tadinha. Disse que ela poderia ter dentro do canal vaginal e até dentro dos órgãos. Dessa eu não sabia.
Enfim, a catapora durou mais ou menos uma semana mesmo, como dizem. Eu passava pasta d'água para ajudar. Disseram para pôr talco mas não achei bom porque ela poderia aspirá-lo. Também falaram do milho debaixo do travesseiro mas não achei necessário. Dei chá de sabugeiro e banho do mesmo chá. A médica do PS que recomendou. Acho que ajudou.
Isso eu preciso reconhecer. Depois da péssima primeira visita, as demais foram boas. Bons médicos. Mas a primeira realmente me marcou. Na verade, também me marcou o seguinte fato: numa das visitas, a médica examinou a Isabel e pediu para eu ir ao posto de enfermagem dar uma medicação para ela. Disse que depois deveria retornar para passar em consulta com ela. E assim fiz. Quando voltei à salinha na frente do consultório dela, me deparei com um monte de mãe com crianças. E fiquei esperando, toda bestinha, na maior inocência. Achei que, como manda a lógica, o bom-senso e tudo mais, a médica tivesse passado a ficha da Isabel para a enfermeira, que a teria devolvido à médica, que logo chamaria a Isabel para o retorno.
Mas o tempo passava, as pessoas entravam e saíam, estava uma muvuca, e nada. Até que eu fiquei lá sozinha na salinha, esperando. E me passa uma mãe, indo embora: "Olha, para ser atendida você tem que entrar na sala da médica assim que alguém sair. Se não você vai ficar aí até amanhã". Como assim? Não existe uma ordem de chegada? Um mínimo de bom-senso, de organização? Não. Não mesmo. Eu é que sou muito tapada. Mal-acostumada com convênio. Preciso ficar mais ligeira, mais esperta.
E ao mesmo tempo a saúde no Brasil tem que melhorar pô!
Tinham me dito que as marquinhas da catapora sumiriam em uma semana, após elas secarem. E que na fase em que secam é que ela é contagiosa. Sei lá. Meu marido nunca teve e nem pegou. Mas as marquinhas ainda custam a sair. E até lá, nada de sol. Ou seja, passei o resto das férias enfurnada em casa, só podendo sair à noite ou quando alguém pudesse ficar com a Isa. E a coitada também de saco cheio de ficar aqui dentro. Às vezes íamos ao quiosque tomar um vento mas não passava disso.
Foi um belo presente de Natal, especialmente considerando que faltavam só três semanas para eu poder dar a vacina da catapora na Isabel. Se ela tivesse tomado garanto que teriam aparecido só umas três marquinhas e nada mais.
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