E então a mãe decide que já não dá mais para ficar em casa sozinha o dia inteiro com o bebê e resolve que vai passear, espairecer para não ficar doida nem deprimida (bebê nenhum merece mãe assim).
E então o bebê, no meio do shopping (ah, sempre o shopping!) começa a espernear que quer mamar. E agora!? O quê fazer?
Tirar o peito para fora, assim, na frente de todos? Correr para casa e encurtar o passeio que acabou de começar? Cobrir o peito (e conseqüentemente o bebê) e dar de mamar ali mesmo?
Bom, antes de ser mãe eu achava uma falta de vergonha essas mães que tiram o peito para fora na frente dos outros e ficam lá, mostrando o seio para quem quiser ver (e também quem não quiser). Tive até trauma. Uma vez no avião, antes da decolagem, fui ao banheiro e ao sair me deparei com o maior seio do mundo logo ali na minha frente, no último lugar em que eu esperava ver um. E o bebê ainda nem estava no colo da mãe, estava no colo da aeromoça / comissária de bordo. Devo ter ficado com uma cara de fantasma porque todos ficaram me fitando enquanto eu cambaleava em direção a meu assento.
Conversando sobre o ocorrido com meu marido, eu disse que se eu, que era mulher, tinha ficado meio abobada, imagine os homens! E ele, sempre do contra, disse que não tinha nada a ver. Que homem tem muito respeito por mulher amamentando. Eu custei, e custo, a acreditar. Ou eles cobiçam, ou não querem saber porque acham repugnante, ou eles não querem saber porque embaça a idéia (sim, vou continar escrevendo com acento!) do seio como algo sexual e passa a ser algo angelical, maternal, e quase um pecado vê-lo de outra forma.
E então me tornei mãe. E eu mesma passei a ver meus seios de outra forma. Até que um dia, não me lembro onde mas era em público, me vi fazendo malabarismos para tentar tirar o peito sem ninguém o ver. Puxa a blusa, o sutiã, a concha, a Isabel, a mantinha para cobrir tanto ela quanto o peito... Ufa! Me esgotei! E fiquei pensando por quê raios eu tinha que fazer tudo aquilo, por quê os outros não podiam simplesmente me ignorar e me deixar amamentar minha filha como eu faço em casa? Confesso que quase fiz isso.
Mas aí eu me lembrei de que aquilo é natural só para mim, e para outras poucas pessoas neste momento. Até quem um dia será mãe, ou quem já foi mãe há tempos não faz parte desse círculo. Só para quem a amamentação é ainda algo muito recente e presente, é que tirar o peito para fora assim no meio do nada é totalmente natural.
E então, até hoje, quando dou de mamar em público, pego antes um lençolzinho super fresquinho que carrego na malinha da Isabel, "prendo-o" na alça do sutiã e dou de mamar com ela (e o seio) cobertos, longe dos olhares indiscretos dos outros. Mas a razão pela qual eu faço isso não é mais a mesma de antes. Antes eu fazia por causa dos outros. "O quê os outros vão pensar de mim!?"
Agora eu faço por mim mesma. Percebi que EU não me sentiria à vontade se não me cobrisse. Eu não conseguiria desfrutar o momento confortavelmente nem deixar a Isabel fazê-lo se eu estivesse preocupada com os homens e mulheres me olhando. Mas isso é porque eu de fato ficaria preocupada. Há quem não ficaria. E sempre levanto o lençolzinho e vejo minha pequena lá toda gostosinha, me sinto ainda melhor de não estar compartilhando daquela nossa intimidade com os outros. Não atraio tantos olhares e, depois de todo o balé para ajeitar a Isabel, relaxo e dou de mamar sossegada.
Ainda assim, o objetivo deste post não é tentar convencer ninguém de que eu estou certa. Esse é o meu jeito de fazer as coisas porque eu assim o decidi. Há pessoas que dizem que eu sou pudica, que os outros que se danem e que eu dê de mamar do jeito que quiser, há quem diga que deve incomodar o bebê aquele lençol cobrindo-o, há quem diga que estou certa, há quem diga que ao cobrir meu seio eu o torno ainda mais objeto de cobiça... Sempre há quem diga. Me faz lembrar uma história que li num livro uma vez:
Um homem já maduro e seu filho pequeno estão percorrendo uma estrada montados no seu cavalo. Passa um moço e diz:
- Mas que horror! Pobre cavalo, carregando os dois preguiçosos!
E então o pai decide descer do cavalo.
E passa uma senhora que palpita:
- Que absurdo! O senhor de idade caminha enquanto o pequeno, cheio de saúde vai montado no cavalo como se fosse um sultão!
E então pai e filho se entreolham e o menino desmonta do cavalo e quem sobe desta vez é o pai.
Mais adiante, uma moça os vê e indaga:
- O senhor não tem vergonha na cara? Vai tranqüilo em cima do cavalo enquanto a pobre criança tem que trilhar o caminho sozinha com suas frágeis pernas!?
E o pai então desce do cavalo.
Assim seguem por alguns kilômetros até que um senhor os vê e debocha:
- Dois tolos! Os dois exaustos de tanto andar e parecem não perceber que o cavalo poderia poupar-lhes o esforço!
O garoto então olha desesperado para o pai. O quê fazer agora? E este, tirando uma lição de tudo que haviam passado lhe diz:
- Chega filho. De agora em diante faremos aquilo que nós acharmos melhor. Porque sempre haverá alguém para nos dizer que estamos fazendo tudo errado.
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