Grávidas e futuras-mamães: o dia do nascimento do seu bebê será o dia mais feliz de sua vida. Você será invadida por um sentimento de plenitude e realização, emoção e amor puro. Se apaixonará perdidamente pelo seu bebê assim que o vir, à primeira vista!
Opa... peraí? Alguém mais tá ouvindo isso? Parece que alguém tá gritando: "Não é bem assim! Não é bem assim!"
Se essa pessoa for uma moça liiiinda, de uns 24 anos, é bem provável que seja eu!
O dia do nascimento da Isabel foi sem dúvida o dia mais emocionante da minha vida. Se eu pudesse revivier um só dia da minha existência, seria ele, com certeza! Mas as coisas também não foram um conto-de-fadas. Não estou reclamando. Amei tudo, tenho e tive muita sorte. Mas engana-se quem pensa que me apaixonei perdidamente pela minha filha no instante em que a vi.
"Nossa! Que mãe desnaturada, sem coração!", você pensa.
Engano seu.
Eu sou uma mãe fora de série. E o digo assim, sem pudor, com todas as letras, porque eu sei disso. Ninguém precisa me contar. E ainda assim eu confesso: Não me apaixonei por ela à primeira vista. E escrevo este post porque desconfio, no íntimo do meu ser, que seja assim com to-das as mães.
Essa constatação, ainda na maternidade, não me surpreendeu graças a dois artigo do meu querido BabyCenter que eu havia lido quando ainda estava grávida: este e este em especial. Uma parte desse segundo artigo ecoou na minha memória:
"Por mais fofo que o bebê seja, ele é uma outra pessoa, a quem você vai precisar se acostumar. Não há como se forçar a amá-lo imediatamente. Não existe uma fórmula mágica. Os laços afetivos entre pais e filho vão surgindo a partir dos cuidados do dia-a-dia, da convivência.
Com o tempo, você vai começar a conhecer o bebê, a saber o que o tranquiliza e a gostar de passar tempo com ele. E assim sua relação e seus sentimentos vão se aprofundar. Então, um belo dia -- talvez quando você vir o primeiro sorriso --, você olha para seu filho e percebe que está absolutamente dominada pelo amor e pela alegria de tê-lo com você."
E assim foi. Isabel nasceu. É claro que eu a amei desde o segundo em que a vi. Aliás, eu já a amava muito antes disso. Durante toda a gravidez. Não, acho que até antes disso! Quando ela ainda era um sonho distante, quando eu ainda sonhava com o dia em que me tornaria mãe mas sabia que esse dia estava bem longe.
Mas é diferente quando a criança nasce.
É claro que eu queria o bem dela. Queria que ela sobrevivesse, que ninguém lhe fizesse mal. Que ela estivesse confortável, bem alimentada, descansada, sentindo-se acolhida. Mas era muito diferente do sentimento que tenho por ela hoje. Eu a olhava e apesar da sensação surreal de saber que aquela era a minha filha, finalmente, ela me parecia como tantos outros bebês que já vi e verei na minha vida.
Mas por sorte eu havia lido o tal artigo do BabyCenter. E me lembrei dele. E me tranquilizei. E tive calma. E paciência. E fui deixando as coisas rolarem. E o amor florescendo, como uma rosa cuja semente já havia sido plantada muito antes mas que só agora se abria para meus olhos.
O amor pelos nossos filhos vai se contruindo com o tempo. Por isso dizemos sempre que os amamos hoje mais do que ontem e menos do que amanhã. Vai se expandindo na convivência, no cotidiano. Quando um filho nasce ele é um estranho para nós. É nosso filho, mas não deixa de ser um desconhecido. E ao conhecê-lo vamos nos dando conta do que sentimos por ele. Cada nova conquista, cada nova descoberta, ação, atitude vai nos revelando um pouqinho mais sobre aquele ser. E mostrando-nos que ele é de fato único e insubstituível. E é assim também para eles. Vão construindo seu amor por nós.
Me lembro nitidamente do dia em que percebi que Isabel já não era mais uma desconhecida para mim. No começo ela tinha dificuldade para mamar. Era muito fraquinha e se cansava fácil. Nem bem começava já adormecia no peito. Para acordá-la eu às vezes usava uma tática que eu havia descoberto sem querer: eu respirava fundo. Com o movimento da minha respiração ela acordava e se punha prontamente a mamar. Aí uma bela madurgada, amamentando, eu, sem pensar, respirei fundo. E desta vez me veio a lembrança de um tempo longínquo em que eu o fazia como tática para acordar a um bebê que eu mal conhecia. E me dei conta de que Isabel já não era mais uma estranha para mim. Ela me era muito familiar.
De vez em quando me pego admirando a Isabel. Pensando que ela me mostrou um amor que eu desconhecia. É admiração no sentido mais puro da palavra. É uma paixão arrebatadora. Mas não foi sempre assim.
Nas semanas seguintes ao nascimento da minha filha eu entrei numa fase muito melancólica. Falarei sobre isso noutra oportunidade. Cheguei a me perguntar se era uma depressão pós-parto. Mas entendi que era meramente um 'baby blues'. Aquela tristeza natural pós-parto sobre a qual eu já havia sido alertada por minhas irmãs e que passaria com o tempo, como de fato passou. E o que me ajudou a distinguir entre as duas coisas foi o fato de eu, apesar de ainda não estar perdidamente apaixonada pela minha filha, não a estar rejeitando. Eu só precisava de tempo. E ela também. E nos permitimos nos dar esse tempo. Sem nóias. E tudo fluiu.